quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Véspera da Água






Tudo lhe doía
de tanto que lhes queria:

a terra
e o seu muro de tristeza,

um rumor adolescente,
não de vespas
mas de tílias,

a respiração do trigo,

o fogo reunido na cintura,

um beijo aberto na sombra,

tudo lhe doía:

a frágil e doce e mansa
masculina água dos olhos,

o carmim entornado nos espelhos,

os lábios,
instrumentos da alegria,
de tanto que lhes queria:

os dulcíssimos melancólicos
magníficos animais amedrontados,

um verão difícil
em altos leitos de areia,

a haste delicada de um suspiro,
o comércio dos dedos em ruína,

a harpa inacabada
da ternura,

um pulso claramente pensativo,

lhe doía:

na véspera de ser homem,
na véspera de ser água,
o tempo ardido,

rouxinol estrangulado,

meu amor: amora branca,

o rio
inclinado
para as aves,

a nudez partilhada, os jogos matinais,
ou se preferem: nupciais,

o silêncio torrencial,
no intervalo das espadas

uma criança corre
corre na colina

atrás do vento,

de tanto que lhes queria,
tudo tudo lhe doía.




Eugénio de Andrade



terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Errata:




Onde se lê amor, leia-se dor.





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Blackbird singing in the dead of night



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Helsínquia, Setembro 2007



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Ponte de Lima, Fevereiro 2008



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Vizela, Fevereiro 2008





quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

3 Poemas de João Cabral de Melo Neto

Aquele rio

Aquele rio
está na memória
como um cão vivo
dentro de uma sala.
Como um cão vivo
dentro de um bolso.
Como um cão vivo
debaixo dos lençóis,
debaixo da camisa,
da pele.

Um cão, porque vive,
é agudo.
O que vive
não entorpece.
O que vive fere.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.
Viver
é ir entre o que vive.

O que vive
incomoda de vida
o silêncio, o sono, o corpo
que sonhou cortar-se
roupas de nuvens.
O que vive choca,
tem dentes, arestas, é espesso.
O que vive é espesso
como um cão, um homem,
como aquele rio.

(...)


*


2

já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma



*


4 e 5

LÁPIDE 1
epitáfio para o corpo
.
Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito
são suas obras completas.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

sábado, 16 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

On the road to nowhere



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Ponte de Lima, Fevereiro 2008




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Guimarães, Fevereiro 2008




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Barcelona, Dezembro 2007





Sob as sombras





De anjos falo – os seres
que por aqui transitam
entre a recepção e a psiquitria
e durante horas se enredam em novelos
onde as cores misturadas ampliam
os berros e as carícias sob as sombras.

Os seres que se masturbam
na solidão do mundo e sem lágrimas
rebentam com o peito contra as grades, fulminados
da azáfama dos pássaros nos cabelos
e a ausente presença de Deus
sobre os ombros

De anjos falo – no aterrador silêncio
perscruto-os em busca do refúgio
que não pode encontrar-se neste tempo
em que a vertigem fere as asas
imortais dos seres proscritos



Amadeu Batista





quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Nor drunk nor stoned










[Wraygunn] :
Foi um bom concerto, mas esperava melhor.
O público em pequeno número e a falta de decibéis no equipamento
sonoro não ajudaram, mas parece-me que a banda está demasiado
refém do Paulo Furtado, e, estando este uns furos abaixo do habitual,
o espectáculo ressente-se disso.
Ainda assim, uma experiência a repetir no futuro.





terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

domingo, 10 de fevereiro de 2008









Mais importante do que falar sobre o amor, fazê-lo.




- Vou embriagar-te e levar-te para a cama.


- Prometes?





quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Reaching for the skies




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Vizela, Fevereiro 2008



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Barcelona, Dezembro 2007



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Vizela, Fevereiro 2008




Five o'clock tear





Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora

Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la

E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito

E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos

E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes

Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada





Emanuel Felix
A Palavra O Açoite




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

sábado, 2 de fevereiro de 2008

The post-hit collection # 15



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Todos os deuses
cairão. Todos.
Sem excepção.