terça-feira, 31 de julho de 2007

Haicais





Escrevo
com os dedos ainda longos
da carícia

*

Magnólias:

Esqueceram-se das folhas
tão grande era a pressa
de florirem




Jorge Sousa Braga




segunda-feira, 30 de julho de 2007

"Sometimes there's so much beauty in the world, I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in."





You know,
this vibration, this nowhereness
this drifting i have inside me,
i cant explain it.
And i don't know if anyone
ever
will understand it.





quinta-feira, 26 de julho de 2007

Across the universe





Ainda não sei como dizê-lo de outra forma...






Amo a poesia
por esta ter a suavidade de uma lámina
de encontro à ingenuidade dos pulsos.





Com a tua letra





Porque eu amo-te, isto é, dou cabo
da escuridão do mundo.



Fernando Assis Pacheco







segunda-feira, 23 de julho de 2007





Quando me levantei já as minhas sandálias andavam
a passear lá fora na relva
Esta noite
até os atacadores dos sapatos
floriram.


Jorge Sousa Braga


(a culpa é das sandálias-voadoras-que-florescem dela)

As estradas leves





Um deus que brinca e que nada quer,
que sonha ou canta, é ele próprio um sonho
que na areia cintila. Fogo ou desejo,
menino que corre no vento entre estrelas verdes,
a mão ondula e quase escreve e quase dança,
e na violência azul incendeia e apaga
as estradas leves suspensas sobre o abismo.



António Ramos Rosa




sexta-feira, 20 de julho de 2007

Radiohead - How To Disappear Completely

Retrato




A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
Há quem, tendo-a metida
num cofre até às mais fundas raízes,
simule não ter pele, quando
de facto ela não está
senão um pouco atrasada em relação ao coração.
Com ele porém não era assim.
A pele ia imitando o céu como podia.
Pequena, solitária, era uma pele metida
consigo mesma e que servia
de poço, onde além de água ele procurara protecção.

Luís Miguel Nava
O Céu sob as Entranhas


domingo, 15 de julho de 2007









Porque o destino seguia-nos o rastro
Como um louco com uma navalha na mão.



Arsenii Tarkovskii




quinta-feira, 12 de julho de 2007

19:40



o relógio da estação marcava
dezanove e quarenta

um alto e entroncado homem
sorria de um dos lados da linha

todos os dias

do outro sorria uma mulher
com os seus dezanove
e quarenta anos

a reter, os brincos da mulher
estridentes de silêncio

e as botas dele
invulgarmente mudas

a dilecção dela
eram homens pontuais

a dele mulheres
sorridentes ao silêncio

dia dezanove de um mês
invernoso
do ano de quarenta

de um lado da linha
não havia vislumbre
de mulher ou homem

e do outro
também não



Nuno Travanca





quarta-feira, 11 de julho de 2007

terça-feira, 10 de julho de 2007

estações




tudo muda
quando um verso rebenta
nos lábios
certos



gil t sousa

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Dead end




Cheguei cedo demais ao lugar
onde tu não existes...







Não, não é a minha aura.
São as luzes do El Corte Inglés.
Aquilo que vês na minha cara,
não é um sorriso,
é uma montra.
É uma loja.
É um balcão vazio.
“Entra e serve-te à vontade”.
Hoje estou em saldos,
hoje dou carícias à borla.
Hoje vendo-me
a este mar de gente
que espera pelo sinal
que me conhece tão bem,
porque não me conhece de todo.
Hoje ofereço palavras.
Hoje estou em promoção.
Hoje poderia convencer qualquer um
a comprar um pedaço de mim
a amar-me a vida inteira.
Amanhã mudo a montra.



Carmen Ruiz Fleta



quarta-feira, 4 de julho de 2007

Espelho meu




Espelho meu, espelho meu
Ninguém te olha como eu!

Espelho meu, espelho meu
Troca-tintas! Camafeu!

Espelho meu, espelho meu
Quem é este? Quem sou eu?!



Simbiose




As formas, as sombras, a luz que descobre a noite
e um pequeno pássaro

e depois longo tempo eu te perdi de vista
meus braços são dois espaços enormes
os meus olhos são duas garrafas de vento

e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços

a tua figura era ao que me lembro
da cor do jardim.




António Maria Lisboa




segunda-feira, 2 de julho de 2007

Hope




We will always fail to see there is none...






domingo, 1 de julho de 2007

Uma voz




Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro mas
não um pássaro cantando:
lembra um pássaro voando




Ferreira Gullar