sábado, 3 de novembro de 2007

Glossário de transnominações em que não se explicam algumas delas (nenhumas) ou menos







Poesia, s. f.
Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de um homem
Designa também a armação de objetos lúdicos com empregos de palavras imagens cores
sons etc. geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas loucos e bêbados

Poeta, s. m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de uma vazadouro para contradições
Sábia com trevas
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como um rosto

Sol, s. m.
Quem tira a roupa da manhã e acende o mar
Quem assanha as formigas e os touros
Diz-se que:
se a mulher espiar o seu corpo num ribeiro florescido de sol, sazona
Estar sol: o que a invenção de um verso contém

Árvore, s. f.
Gente que despetala
Possessão de insetos
Aquilo que ensina de chão
diz-se de alguém com resina e falenas
Algumas pessoas em quem o desejo é capaz de irromper
sobre o lábio, como se fosse a raiz de seu canto

Apêndice:
Olho é uma coisa que participa o silêncio dos outros
Coisa é uma pessoa que termina como sílaba
O chão é um ensino.




Manoel de Barros





7 comentários:

Rita disse...

Tudo muito divertido, a lembrar-me outros tempos meus, de meninice, de espanto, quando se faziam coisas a que se chamavam tertúlias, e homens de barba e cachimbo me faziam lembrar solenidade.

Tudo muito divertido, quero dizer, o título, a imagem, a poesia em si.

Tudo muito divertido, deu-me para sorrir, e depois ler outra vez, e rir.

Ana disse...

Adorei este poema!

Happy and Bleeding disse...

:)

Anónimo disse...

gostei :)

Joana Serrado disse...

Desculpem a minha ignorancia...

Quem é este Manoel de Barros?

Anónimo disse...

Guardo agora estes sinónimos comigo.

V. disse...

Fantástico mesmoooooooooooo!