domingo, 24 de junho de 2007
Elogio dos sonhos
Nos sonhos
pinto como Vermeer Van Delft.
Falo grego com fluência
e não apenas com os vivos.
Conduzo um automóvel
que me é obediente.
Sou hábil,
escrevo grandes poemas.
Escuto vozes
tão bem como os antos mais austeros.
Ficaríeis admirados
da perfeição com que toco piano.
Consigo voar como devia ser,
isto é, eu de mim própria.
Ao cair de um telhado
sei como descer lentamente na verdura.
Não me lamento:
consegui descobrir a Atlântida.
Fico contente porque, antes de morrer,
consigo acordar sempre.
A guerra a rebentar
e eu a virar-me para o melhor lado.
Sou, sem ter porém
que o ser, filho da época.
aqui há alguns anos
vi dois sóis.
e, antes de ontem, um pinguim,
ali, muito nítido, ao pé de mim.
Wislawa Szymborska
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