quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Não dizia palavras






Não dizia palavras,
Aproximava apenas um corpo interrogante,
Porque ignorava que o desejo é uma pergunta
Cuja resposta não existe,
Uma folha cujo ramo não existe,
Um mundo cujo céu não existe.
Entre os ossos a angústia abre caminho,
Ergue-se pelas veias
Até abrir na pele
Jorros de sonho
Feitos carne interrogando as nuvens.
Um contacto ao passar,
Um fugidio olhar no meio das sombras,
Bastam para que o corpo se abra em dois,
Ávido de receber em si mesmo
Outro corpo que sonhe;
Metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,
Iguais em figura, iguais em amor, iguais em
desejo.
Embora seja só uma esperança,
Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta
ninguém sabe.



Luis Cernuda




2 comentários:

V. disse...

E pronto, com este é que me calei de vez.

:D

Lindoooooo!

Beijinho*

Rita disse...

(...)o desejo é uma pergunta
cuja resposta não existe
(...)

Belíssima frase...

Mas, e porque será que, mesmo sabendo que não há resposta, continuamos a perguntar?