sexta-feira, 18 de abril de 2008

3 poemas de Casimiro de Brito



Meus pensamentos são nómadas


Meus pensamentos são nómadas
e vagarosos

como a água que vem da montanha
e não sabe nada

do coração dos homens.
O meu, por exemplo,
tem a leveza do vento

e corre para casa como se fosse
um cão que precede
os passos do dono.



*



46


A guerra dos homens não inibiu
As cores do arco-íris: O mundo está pois
No seu caminho, no campo raso onde respiram
Os insetos silenciosos da morte. Os homens
Deslizam insaciáveis com o desejo
Virado para o céu. O corpo está pois
No bom caminho: A boca na terra
De quem vive apenas
Este momento.



*



Se eu pudesse deixar de correr
Caminhava se eu pudesse deixar de caminhar
Sentava-me à sombra da nogueira azul do céu
Se eu pudesse deitar-me deitava-me
Numa cova com a forma do meu corpo em
Repouso se eu pudesse deixar de cantar
Fechava os olhos e olhava o alto vazio
Onde não acontece nada a não ser
A conciliação provisória do caos
E da luz que não se cansa de nascer.



5 comentários:

vanus disse...

Esta sequência está muito boa, mais o post de baixo ;)

Anónimo disse...

.
a conciliação provisória do caos.
.
já tinha saudades do casimiro de brito.
.

Anónimo disse...

lindo! bolas, são tão poeticamente ignorante. prometi a mim mesma que este ano ia ler mais poesia, mas nem poesia nem prosa. só direito... :|

ainda não o disse mas a foto que agora puseste está absolutamente fantástica!!


off post: federer's the best, you know...the real master, the perfection, you know... =P

FE disse...

"Onde não acontece nada a não ser
A conciliação provisória do caos
E da luz que não se cansa de nascer."

Muito bom :)

*

Anónimo disse...

Como estou triste por ter falecido hoje, um jovem de 45 anos, meu amigo, o Pedro Beça Múrias, filho de grande amigo meu, tb falecido, o Manuel Beça Múrias, do JORNAL.
Reproduzo este teu verso:

"Se eu pudesse deixar de correr
Caminhava se eu pudesse deixar de caminhar
Sentava-me à sombra da nogueira azul do céu
Se eu pudesse deitar-me deitava-me
Numa cova com a forma do meu corpo em
Repouso se eu pudesse deixar de cantar
Fechava os olhos e olhava o alto vazio

Onde não acontece nada a não ser
A conciliação provisória do caos
E da luz que não se cansa de nascer."

Desejamos os dois, Casimiro, canto contigo, novamente:

"A conciliação provisória do caos
E da luz que não se cansa de nascer."

Para nós dois, para ti, poeta muito mais: "a luz não se cansa de nascer"

Beijinho

Helena Barroso