domingo, 11 de maio de 2008

De profundis amamus



Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria

Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes

O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso

Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso.



Mário Cesariny de Vasconcelos




6 comentários:

Queen Frog disse...

é q é somente o meu mais q tudo poema
:)

V. disse...

possível poema que poderia ser feito a partir de ontem:

Ontem
às onze

deixou de chover

Andámos
dez quilómetros
a pé


E hoje
não dormi

Não faz mal

Não te importes
muito


Olha:

foi tudo lindo lindo lindo!

:)

(e mais não digo! :p)

beijinhoooo*

Anónimo disse...

lindo...

L. disse...

diria que passámos a meia noite de 31 de dezembro à chuva, a caminhar porque sim, sem entrar em lugar nenhum, por sabermos que se aproximava algo terrível:

a metade da vida.

Rita disse...

Fantástico, como sempre!

Excelente escolha.

*

Anónimo disse...

.
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
.
fico sempre assim, sem palavras.
.