sexta-feira, 20 de julho de 2007

Retrato




A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
Há quem, tendo-a metida
num cofre até às mais fundas raízes,
simule não ter pele, quando
de facto ela não está
senão um pouco atrasada em relação ao coração.
Com ele porém não era assim.
A pele ia imitando o céu como podia.
Pequena, solitária, era uma pele metida
consigo mesma e que servia
de poço, onde além de água ele procurara protecção.

Luís Miguel Nava
O Céu sob as Entranhas


2 comentários:

Anónimo disse...

.
o corpo como prolongamento é extraordinário no nava.
.
desconcertante, até.
.

eyeshut disse...

maravilhoso.