segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Lamento de Calipso



Primeiro foi o bule,
de seguida foi a asa.
Que mais irás quebrar.

Não sei o que fazer com o teu sim,
o teu não, o teu
passa-me o açúcar.

A distância dos teus olhos não a sei
abreviar, o latido dos teus sonhos
não me deixa adormecer.

Gostava de te amar um pouco menos,
de voltar ao meu rebanho
de feridas e sopores,
regressar ao rijo barro dos Domingos
em que não te conhecia,
ao supor de suas tardes

Quando ainda não sabia
Da dureza do cimento, nem dos modos
De quebrar e ser quebrado.




José Miguel Silva



6 comentários:

Queen Frog disse...

a escrita deste senhor deixa-me de rastos!

é brilhante...


*

V. disse...

(...)

Gostava de te amar um pouco menos,
de voltar ao meu rebanho
de feridas e sopores,
regressar ao rijo barro dos Domingos
em que não te conhecia,
ao supor de suas tardes

Quando ainda não sabia
Da dureza do cimento, nem dos modos
De quebrar e ser quebrado.


não sei que dizer a isto.

*

Anónimo disse...

Comentar escritos como os seus me aflige, soa meio herético...como se eu estivesse profanando nesse mundinho virtual, locais que devem permanecer "imexíveis"...agradeço-lhe pelas traduções das minhas dores...

Anónimo disse...

bules sem asas,
chávenas quentes de chá

Ana disse...

esta manhã já li José Miguel Silva em, pelo menos, 3 sítios diferentes... cada um melhor que o outro. Que palavras! :)

*

vanus disse...

Este tipo escreve mesmo bem (tudo) :)