quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Um bom par de chapadas




Quando se está completamente farto
Quando se esgotou tudo
O vinho o amor as cartas
Quando se perdeu o vicio
Das sopas de camarões
Das salsichas de Sarthe
Quando a visão de um strip-tease
Nos faz dizer: que parvoíce
Não arranjaram melhor
Ainda resta um jeito
Que nunca perde o efeito
De ver a vida a cor-de-rosa

Um par de chapadas na tromba
Um bom pontapé no cu
Um murraço nas queixadas
Dá-nos outra juventude
Um bom par de chapadas na tromba
Um directo em cheio no estomago
Os dedos dos pés debaixo duma mó
Um biqueiro em pleno trálálá
Apaga tudo, a droga e a aspirina
Os espinafres, o snif e a Badoit
É mais bacana que o foie gras em terrina
Pois é menos caro e não engorda
Um bom par de chapadas na tromba
E a vida volta a ter valor
Numa manhã em que nos sintamos sós
Toca a partir a cara entre amigos

Quando ela deu de frosque
Levando o dinheiro
E a máquina de costura
Deixando-nos o lava-louça
Cheio de louça por lavar
E sal no pote do açucar
Quando o nosso melhor amigo
Telefona no dia seguinte
Dizendo: vem-na buscar
A gente casquina e pensa
Espera um pouco Hortência
Vais ver o que vais levar

Um par de chapadas na tromba
Um bom pontapé no cu
Um murraço nas queixadas
Dá-nos outra juventude
Um bom par de chapadas na tromba
Um directo em cheio no estomago
Os dedos dos pés debaixo duma mó
Um biqueiro em pleno trálálá
Aborrecias-te no meu quartinho
Suspiravas, querias coisa nova
Doravante de Janeiro a Dezembro
Conta comigo para te servir à descrição
Um bom par de chapadas na tromba
Isso há-de consolar-me minha rica
Dos serões em que manipulavas
O rolo da massa
Toma lá cabra.




Boris Vian




4 comentários:

V. disse...

ui... carago!

isto é alguma ameaça?! :p

*

vanus disse...

Perfeito :)

Os tarados, ou conscientes que vai dar ao mesmo, são sempre os melhores; o pior mesmo, deve ser -é- conviver com um deles.

Ana disse...

bom, muito bom :) *

Rita disse...

Acho que pode haver outras maneiras, melhores: talvez; mas o senhor Boris Vian tem direito à sua opinião... e também à sua raiva, sentimento que é muito humano, mas que nos ensinam a negar, que é o mesmo que dizer: a não saber viver bem com ele.

Digo eu...