e embora a dor
não queira ir já embora
agora eu vou-me embora
e parto sem dor
Sérgio Godinho
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Trago dentro de mim
o peso de um fruto exógeno
como uma pedra
que floresce
para servir de lastro
à boca
vou
esboroando as mãos, as-per-gin-do--as
no sangue
até que cada dedo
seja um perfume - a latejar
num gesto interminável.
vou
como um homem-debruado-a-fogo
à procura
da sua própria sede
e que avança para mar alto
içado
na luminosidade
da sua loucura
até que se torne
numa imagem sereníssima
que resvale - imperturbável
pelas frágeis encostas
do mundo.