- Now you can remove your heartware safely.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Como se

Tocar as margens desta página
deste corpo
como se existisse já o corpo
sem caminho
acender palavras trémulas
como se houvesse lâmpada
atravessar-te o corpo unânime
como se o visse já sob o relâmpago
dizer-te um a um
os dedos das carícias
num enxame de palavras quase vermelhas
quase
como se língua falasse sob o trovão tremendo
dizer-te esta laranja incandescente
este músculo que desce
em água doce como se te visse já e te tocasse
a pele sob esta chuva escura atravessar
a espessura deste papel
com letras como se as letras fossem feridas
no teu corpo desenhar esse gesto despenteado
como se o corpo rolasse sob as palavras mesmas
como se o caminho se abrisse tão perto da tua boca
É como se te respirasse se eu falasse
como se respirasse no caminho
como se estas palavras fossem já
esse caminho
para o teu corpo
como se houvesse um caminho
se eu falasse
se eu falar
Vejo-te imagem só
mas não o corpo
ou nem a imagem vejo - mal respiro
E no entanto uma palavra ascende
O caminho é este
através
das palavras do teu corpo
são estas
as pedras
vermelhas
negras
sob a chuva
estas mãos que buscam
o caminho da espessura
são o caminho já
tão perto da tua boca
da tua língua acesa
Se eu falar
é este o caminho dos teus cabelos
da tua boca
cada palavra treme
com o temor dos teus pulsos
com a loucura feliz
desta mão que ascende
sobre o teu corpo
e desce
ao fundo
à água
do teu sexo
e beijo o teu nome
entre os teus dentes
António Ramos Rosa
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
domingo, 27 de janeiro de 2008
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Poema temperamental

Ó caralho! Ó caralho!
Quem abateu estas aves?
Quem é que sabe? quem é
que inventou a pasmaceira?
Que puta de bebedeira
é esta que em nós se vem
já desde o ventre da mãe
e que tem a nossa idade?
Ó caralho! Ó caralho!
Isto de a gente sorrir
com os dentes cariados
esta coisa de gritar
sem ter nada na goela
faz-nos abrir a janela.
Faz doer a solidão.
Faz das tripas coração.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque não vem o diabo
dizer que somos um povo
de heróicos analfabetos?
Na cama fazemos netos
porque os filhos não são nossos
são produtos do acaso
desde o sangue até aos ossos.
Ó caralho! Ó caralho!
Um homem mede-se aos palmos
se não há outra medida
e põe-se o dedo na ferida
se o dedo lá for preciso.
Não temos que ter juízo
o que é urgente é ser louco
quer se seja muito ou pouco.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque é que os poemas dizem
o que os poetas não querem?
Porque é que as palavras ferem
como facas aguçadas
cravadas por toda a parte?
Porque é que se diz que a arte
é para certas camadas?
Ó caralho! Ó caralho!
Estes fatos por medida
que vestimos ao domingo
tiram-nos dias de vida
fazem guardar-nos segredos
e tornam-nos tão cruéis
que para comprar anéis
vendemos os próprios dedos.
Ó caralho! Ó caralho!
Falta mudar tanta coisa.
Falta mudar isto tudo!
Ser-se cego surdo e mudo
entre gente sem cabeça
não é desgraça completa.
É como ser-se poeta
sem que a poesia aconteça.
Ó caralho! Ó caralho!
Nunca ninguém diz o nome
do silêncio que nos mata
e andamos mortos de fome
(mesmo os que trazem gravata)
com um nó junto à garganta.
O mal é que a gente canta
quando nos põem a pata.
Ó caralho! Ó caralho!
O melhor era fingir
que não é nada connosco.
O melhor era dizer
que nunca mais há remédio
para a sífilis. Para o tédio.
Para o ócio e a pobreza.
Era melhor. Concerteza.
Ó caralho! Ó caralho!
Tudo são contas antigas.
Tudo são palavras velhas.
Faz-se um telhado sem telhas
para que chova lá dentro
e afogam-se os moribundos
dentro do guarda-vestidos
entre vaias e gemidos.
Ó caralho! Ó caralho!
Há gente que não faz nada
nem sequer coçar as pernas.
Há gente que não se importa
de viver feita aos bocados
com uma alma tão morta
que os mortos berram à porta
dos vivos que estão calados.
Ó caralho! Ó caralho!
Já é tempo de aprender
quanto custa a vida inteira
a comer e a beber
e a viver dessa maneira.
Já é tempo de dizer
que a fome tem outro nome.
Que viver já é ter fome.
Ó caralho! Ó caralho!
Ó caralho!
Joaquim Pessoa
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Testing one two, testing!
Deixo uma pequena amostra de um jaming experimental
com baixo e bateria, gravado um dia destes por mim e pelo M.
Desculpem a qualidade duvidosa do som, mas foi o que se arranjou.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
You left me no choice!
Desde sempre fui avesso a correntes, listagens e afins,
e desta vez não será diferente. Mas há injustiças que eu não
tolero e o facto de estes nomes estarem arredados da maior
parte das listas de melhores do ano, não me deixou outra
alternativa do que fazê-la pelas próprias mãos.
Assim sendo, aqui vai a minha adenda, a juntar a muitos
outros nomes que não vou enumerar e muito menos quotizar:
Grinderman - Grinderman
Blonde redhead - 23
block party - Weekend in the city
They fukin' rock!
Agora já posso dormir descansado.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Clubbing, baby!
Sáb. 19 de Janeiro, Casa da Música
The Go! team + Coldfinger
(e baterias apontadas para os próximos concertos
de Mazgani, Kusturica e Wraygunn)
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A arte do silêncio domino eu bem.
já rompi os dedos nesse êxtase,
nessa pose ensaiada no vazio.
Exilado do corpo
espero na antecâmara da palavra,
marginal.
A voz
atulhada como uma larva
na garganta
desfia uma linguagem nada-morta.
Urge o exílio da alma,
a ferrugem nos olhos.
O suicídio do mundo
estilhaça demasiado perto da redoma.
Da queda, do meu quebranto
sobrevivem apenas os lábios.
- teimosamentecolados -
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Sometimes I think I'm funny... most times I'm just an asshole.
What do you call a person that's surfing
for the first time in the internet?
- e-mature.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
domingo, 6 de janeiro de 2008
Três poemas de Luís Miguel Nava
O céu
Assoam-se-me à alma
quem como eu traz desfraldado o coração
sabe o que querem dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.
*
Sem outro intuito
Atirávamos pedras
à água para o silêncio vir à tona.
O mundo, que os sentidos tonificam,
surgia-nos então todo enterrado
na nossa própria carne, envolto
por vezes em ferozes transparências
que as pedras acirravam
sem outro intuito além do de extraírem
às águas o silêncio que as unia.
*
O abismo
Com a sua pele de poço,
pele comprometida com o medo que no fundo fede e a que,
digamos,toda ela adere de uma forma resoluta,
dir-se-ia que se engancha,se pendura,
o branco da memória a alastrar pelo corpo,
um branco tão branco como o das noites em branco
e sobre o qual a idade, exorbitada, hiante, se insinua,
pensos, ligaduras, impregnados de memória,
uma memória onde fulgura a lava dos sentidos que entram
em actividade e lhe disputam os dias idos,
assim ergue a balança,onde sustém o abismo.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Algumas proposições com pássaros e árvores que o poeta remata com uma referência ao coração

Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra quando o outono desce
veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia não foi ainda
isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Ruy Belo
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
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