terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Como se







Tocar as margens desta página
deste corpo
como se existisse já o corpo
sem caminho
acender palavras trémulas
como se houvesse lâmpada
atravessar-te o corpo unânime
como se o visse já sob o relâmpago

dizer-te um a um
os dedos das carícias
num enxame de palavras quase vermelhas
quase
como se língua falasse sob o trovão tremendo
dizer-te esta laranja incandescente
este músculo que desce
em água doce como se te visse já e te tocasse
a pele sob esta chuva escura atravessar
a espessura deste papel
com letras como se as letras fossem feridas
no teu corpo desenhar esse gesto despenteado
como se o corpo rolasse sob as palavras mesmas
como se o caminho se abrisse tão perto da tua boca
É como se te respirasse se eu falasse
como se respirasse no caminho
como se estas palavras fossem já
esse caminho
para o teu corpo
como se houvesse um caminho
se eu falasse
se eu falar

Vejo-te imagem só
mas não o corpo
ou nem a imagem vejo - mal respiro
E no entanto uma palavra ascende
O caminho é este
através
das palavras do teu corpo
são estas
as pedras
vermelhas
negras
sob a chuva
estas mãos que buscam
o caminho da espessura
são o caminho já
tão perto da tua boca
da tua língua acesa

Se eu falar
é este o caminho dos teus cabelos
da tua boca
cada palavra treme
com o temor dos teus pulsos
com a loucura feliz
desta mão que ascende
sobre o teu corpo
e desce
ao fundo
à água
do teu sexo


e beijo o teu nome
entre os teus dentes




António Ramos Rosa




2 comentários:

Ana disse...

uhm... (a pestanejar) acho que ontem vi uma outra foto. Belíssima esta, mas a de ontem tb era extraordinária. Quanto ao poema, palavras para quê? é António Ramos Rosa ;)

V. disse...

wow! e ia jurar q também tinha visto outra foto! ;)

beijinho*