domingo, 6 de janeiro de 2008
Três poemas de Luís Miguel Nava
O céu
Assoam-se-me à alma
quem como eu traz desfraldado o coração
sabe o que querem dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.
*
Sem outro intuito
Atirávamos pedras
à água para o silêncio vir à tona.
O mundo, que os sentidos tonificam,
surgia-nos então todo enterrado
na nossa própria carne, envolto
por vezes em ferozes transparências
que as pedras acirravam
sem outro intuito além do de extraírem
às águas o silêncio que as unia.
*
O abismo
Com a sua pele de poço,
pele comprometida com o medo que no fundo fede e a que,
digamos,toda ela adere de uma forma resoluta,
dir-se-ia que se engancha,se pendura,
o branco da memória a alastrar pelo corpo,
um branco tão branco como o das noites em branco
e sobre o qual a idade, exorbitada, hiante, se insinua,
pensos, ligaduras, impregnados de memória,
uma memória onde fulgura a lava dos sentidos que entram
em actividade e lhe disputam os dias idos,
assim ergue a balança,onde sustém o abismo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Fiquei rendida logo ao primeiro poema. Não conhecia...
A pele serve de céu ao coração.
Ohhh!! (...)
Beijinho*
a pele de poço,
a pele como céu do coração
e agora não me vou mais esquecer disso.
.
ou como fundir o corpo com a palavra.
.
o nava era (é) genial.
.
Junto com DANIEL FARIA, LUÍS MIGUEL NAVA formou (a) uma dupla cuja poesia é madeira-de-lei, e ambos morreram muito muito jovens.
Abri este LINK num artigo que escrevi numa das minhas Páginas. AQUI:
http://uaima.wordpress.com
Parabéns pela página bem cuidada.
Abraço.
Enviar um comentário