Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
Emanuel Felix
A Palavra O Açoite
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
Emanuel Felix
A Palavra O Açoite
3 comentários:
Grande poema de um poeta especial. Muito obrigada.
Coisa alegre e bonita, de triste, este poema de seu sangue que leio meu. Muito obrigado.
Li isto muitas e muitas vezes e não me ocorre nada, a não ser:
No fundo, o que me recuso a acreditar é que estejamos condenados. Apesar dos prados
envenenados, da lenta agonia dos rios e do mar. Da atmosfera cada vez mais carregada das cidades. Contanto que a poesia seja — continue a ser —
um lugar
onde ainda se pode
respirar.
Jorge Sousa Braga
Estranho conseguir respirar no meio de tanta tristeza, não? Talvez seja infinitamente verdade esta vida parada que ninguém quer. O sossego que se procura nas palavras (dos outros) para fugir ao silêncio dos nossos espaços vazios - que habitam corredores - incomoda tanto que, mesmo sem querer, somos obrigados a respirar o deserto de quem nem conhecemos para tentarmos esquecer o nosso. Haja, ao menos, algum alívio nisso.
Beijinho*
[ Adorei o post, como sempre. ]
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