sexta-feira, 28 de setembro de 2007
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Como se eu fosse um vinho
e tu abrisses os pulsos para me libertar
como se náufrago, sonhasse na tua carne
a firmeza da terra adiada.
como se o voo dos pássaros pairasse aceso
sobre os ramos do teu cabelo
até que as suas asas delirantes
pernoitassem nos teus olhos.
como se eu me rasgasse
na tua mão, e repleto
entrasse em ti como num jardim
como se hoje apenas eu
dançasse na areia movediça
da tua boca.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Três poemas de Alejandra Pizarnik
A tua voz
neste não poderem sair as coisas
do meu olhar
elas desapossam-me
fazem de mim um barco sobre um rio de pedras
se não é a tua voz
tu desatas-me os olhos
e por favor
que me fales
sempre
*
Alguém mede soluçando
a extensão da aurora.
Alguém apunhala a almofada
em busca do seu impossível
lugar de repouso
*
explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco levando-me
domingo, 23 de setembro de 2007
White chalk-late
Esta mulher cobriu-se com a doçura pueril de uma menina. vestiu a brancura das teclas, da voz, a palidez dos dedos... e deixou-se fotografar sobre um fundo negro. o mesmo de sempre.
White chalk não me arrebata (pelo menos às primeiras audições), mas continua a ter belas canções, que nos doem onde ela sempre nos doeu.
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
em acrílico forte
não sei
a que cidade cheguei
lembro-me de ter vinte anos
e cegar
perdi
o que nenhum homem sabia perder
e alguém me disse:
- desenha a tua morte
e eu peguei nos meus olhos
e fiz este silêncio negro
porque os meus olhos
eram negros
e neles é que eu guardava
a vida e a morte
foi há muito tempo
pois sou um homem muito velho
sou tão velho
como a distância do caminho que percorri
lembro-me que fui
que fui, como o sangue vai numa veia
até ao coração
do nada
até sofrer a eternidade
como uma pedra ou um planeta
fui na gota de mim
ao oceano de mim
e agora cheguei
sem saber onde cheguei
estou no mais abstracto
de um ser
estou na minha alma
ou no meu sonho
estou na essência
do que faz enlouquecer
sinto-o na cor forte
que me devolve os olhos
no estranho calor
que me concede humanidade
não sei
a que mundo cheguei
sou um velho
que ensaia o seu olhar
e há esta cidade estranha
onde não corre o vento
onde nenhum céu vigia
nenhum horizonte define
estou sentado
num prado de aço
e nenhuma estrada
foi escrita
nenhum rio
foi pintado
nenhum ser
foi dito
sou um velho
e ensaio o meu olhar
exerço-o no invisível
que precede as coisas
que está antes do objecto
antes do ser
e tenho nas mãos
a ciência dos gestos
tenho a Arte
sou o talento da vida
por isso
gota a gota
dou-me
um mar
dou-me
os homens e as mulheres
e dou-me em cada um
a voz
todas as vozes
até ao esplendor do grito
e nesse rumor
nesse quase cantar
é que oiço o nome
do que me chama
não sei
que cidade me espera
sou um velho
sou um pássaro cego
que voa adormecido
os seus vinte anos
gil t. sousa
terça-feira, 18 de setembro de 2007
domingo, 16 de setembro de 2007
E a ria ali tão perto...
Cheguei ao Mercado Negro com facilidade. o espaço está bem situado e agradou-me muito. passeei-me coerente pela exposição, anónimo, e tirei várias fotografias (que ficaram uma merda, diga-se).
A meio do corredor desta casa imaginada, um pequeno ponto (de fuga? de encontro?) assomava.
depois - e enquanto olhava para lá das vidraças os jardins que subiam aos telhados numa voluptia de vôo - incêndiou-se-me na boca uma tarte de rabanete.
Então, deixei-me ir (quase pela janela) - e o relógio que só marcava as horas nas entrelinhas...
p.s. - os poemas/blogs que salientei são aqueles que por uma ou outra razão mais me estão perto.
miss lemon: (maybe it matters) o trabalho que mais gostei foi aquele que ilustra o poema do blog musas esqueléticas.
sábado, 15 de setembro de 2007
O limiar e as janelas fechadas
O que é certo é que gostei de ti.
O resto não: se exististe,
e se assim foi, qual a cor dos olhos, ora verdes
ora cinzentos, deles levantou-se uma vez
um bando de andorinhas. Quais. As rápidas,
as que não andam, as que se amam no ar.
Como foi. Ficaste doente
ou coisa assim, levaram-te, muito se passou,
acho que ia ter outro filho e esqueci-me de ti
até ouvir-te, esta noite, a horas impossíveis,
vem comigo, é tempo. Larga tudo e sai,
espero por ti ao pé da cancela.
Mas cheguei lá e o trinco
estava solto, batia ao vento
contra o poste, fechei-o, voltei para trás,
a pensar em ti, que estiveste lá,
sabe-o Deus, que abriste a cancela,
que gostei de ti e também
que a porta não encaixava bem.
Eva Gerlach
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Acto primeiro
Acto segundo
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Acto terceiro
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