terça-feira, 27 de novembro de 2007
Pretextos para sair do real
A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos
Assobio às pequenas esperanças
Que vêm lamber-me os dedos
Perco-me no teu retrato
Horas seguidas
E ao trote do ciúme deito contas
Deito contas à vida.
Alexandre O'neill
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Gosto muito do O'neill.
Infelizmente, tendemos a confundir amor e posse, ou melhor, a desejar possuir o objecto do nosso amor. Se tivermos estes nossos sentimentos conscientes e controlados, tudo bem; de contrário o amor deixa, a meu ver, de ser amor; o desejo de posse é a antítese do amor.
Há várias maneiras de sublimarmos este nosso sentimento; ocorre-me a cama, por exemplo. Obviamente que também aqui terão que existir limites, e que são o respeito e conhecimento dos desejos e limites do outro e dos nossos próprios. E o diálogo.
Onde vais tu buscar estas coisas?
Ai ai... suspiro gigante! :p
*
Pequenas esperanças a abanar a cauda. e lamber as feridas.*
Para os comuns, o corpo da mulher é indecifrável.
que comentários, ein :)
os homens são os comuns? eheh
o amor e a posse são uma só coisa. a posse que torna o outro no ser mais livre de todos. desejo, amor, posse, all the same.
estou só a lançar uma chispinha, nada de maior.
"Perco-me no teu retrato
Horas seguidas
E ao trote do ciúme deito contas
Deito contas à vida."
Been there, done that. Só não tenho o dom da palavra do O'neill ;)
Belíssimo poema e ainda melhor estudo da natureza humana.
Enviar um comentário