domingo, 14 de outubro de 2007








Há alguém que escreve
ao fundo da casa.
Escreve com o corpo
intumescido de medo.

Está à espera
da loucura sob o peso
pungente da noite.
O silêncio devora-lhe
a boca.

Protege-se com as mãos dolorosas
com que trabalha o poema
e move-se como um corpo
que há muito desaprendeu
a luz.

Está ao fundo da casa
como uma lâmpada apagada

e escreve

como um abismo em
exsudação.





8 comentários:

ana salomé disse...

muito muito muito muito bom.

V. disse...

Está tudo tão bonito! :)

eyeshut disse...

___________________________*

Bluesy disse...

adorei a nova imagem e a saga dos "post-hits" :)

Joana Serrado disse...

só acredito verdadeiramente nos poetas que mostram o medo de escrever.


Quanto `a imagem, confesso que preferia a outra imagem...metia-me medo. Arrepiava-me.

Esta, nao sei porque, convida-me mais facilmente a entrar neste site. E a morte nao pode ser assim convidativa...

ana c. disse...

gostei do silêncio que devora bocas. a palavra também tem, frequentemente, o mesmo efeito.

este poema devorou um pouco do silêncio.

Natália Nunes disse...

"um abismo em exsudação."

maravilhosa essa imagem!

Rita disse...

Gosto do teu novo horizonte e da tua bicicleta.

Gosto de voltar a ver preto; combina com o silêncio, com o medo e com o fundo da casa.